

Um dia na vida de um animal raro, nunca antes visto ou nunca antes estudado. Ou então de vários animais raros, cada um pertencente a uma espécie que só tem um representante, de tal maneira que a noção de “espécie” já não serve para nada. Raridades absolutas, sem ciência, só experiência. Animais que são, porque existem. Raros. Uma família de estrangeiros onde ninguém manda e ninguém quer ter razão. Uma anti-heroica matilha de espíritos livres cuja missão consiste em salvar o mundo da derrocada, para tal exercendo, eximiamente, a nobre arte de existir. Resiliente e teimosamente. Um sapiente coletivo animalesco que ajuda, cuida e repara, para tal vivendo, fazendo, oferecendo, sem pedir nada em troca! Um/a por todos/as e todos/as por um/a, quase que diriam. Só que “O Melhor do Mundo” não é uma daquelas fábulas com conclusão moral e consoladora; é antes uma história (de acordar!) sobre animais que são humanos, ou sobre humanos que podiam ser um bocadinho mais animais.
O título, livremente inspirado no conhecido poema “Liberdade”, de Fernando Pessoa, remete para a idealização desse mundo melhor que urge, na contemporaneidade, antever e preparar. Em reação às complexas crises políticas, sociais e sanitárias que afetam o mundo de hoje, pelo avanço descontrolado das tecnologias da (des)informação, pelo reaparecimento preocupante de ideologias totalitárias, pela destruição da natureza e da biodiversidade, pela perda trágica de vínculos sociais alicerçados na lealdade, na cooperação e no respeito mútuo, queremos pensar em que modo(s) pode a arte servir de alavanca propulsora para a revelação/construção de regimes relacionais mais justos, empáticos e inclusivos. Nesse enquadramento, o cão não será metáfora, mas modelo. De amizade, de interdependência, de cuidado. O melhor do mundo, portanto. E a magna lição para as crianças, as de hoje e as de amanhã: não somos nada sozinhos. Num formato de concerto participativo e relacional, “O Melhor do Mundo” propõe um dispositivo didático baseado numa ecologia que coloca o cão no centro da eterna discussão sobre as problemáticas do Humano. Uma peça que significa, também, o regresso do Ballet Contemporâneo do Norte à criação coreográfica dirigida ao público infantil, dando continuidade ao trabalho sobre questões de cidadania, tolerância, interajuda e anti-competição que têm consubstanciado a prática e a ética da companhia ao longo dos últimos 25 anos.


Criação e Direção:Susana Otero
Dramaturgia e Textos: Rogério Nuno Costa
Aconselhamento Artístico e Interpretação: Daniel Oliveira, Filipa
Duarte, Henrique Fernandes, Jorge Gonçalves e
Vinicius Massucato
Composição Musical: Henrique
Fernandes(Sonoscopia)
Desenho, Operação de Luz e Vídeo: Daniel Oliveira
Figurinos: Jordann Santos
Fotografia de Processo de Trabalho: Miguel Refresco
Fotografia de Cena: Nelson d’Aires
Design Gráfico e Ilustração: Jani Nummela
Produção: BCN em colaboração com Sonoscopia -Patrícia Caveiro
2021